EMPRESAS ENFARTADAS

PUBLICADO EM ZEROHORA EM 09/11/2016

 

Os desastres econômicos arrasam as empresas.

A recessão que a economia brasileira enfrenta deve acumular uma queda do PIB entre 2014 e 2016 próxima de 7%.

Uma das características da recessão é a redução da demanda, que afeta diretamente o setor produtivo, quando a indústria sofre o primeiro impacto, sendo que seu desempenho deve sofrer uma redução em torno de 10,8% nesses três anos.

É importante salientar que nos anos de 2012 e 2013 e durante o ano eleitoral de 2014, ocorreu o afrouxamento da política fiscal e a redução artificial da taxa Selic[1], com uma tentativa do Governo Federal de indicar um crescimento e uma expectativa que não se confirmaria. O então ministro Guido Mantega, no início de 2014 previa um aumento do PIB próximo de 3,5%, o que só ele via, chegando-se no final a pouco mais de zero.

A tentativa de indução dos agentes econômicos a acreditarem na expansão do PIB naqueles anos vinha acompanhado de oferta de recursos abundantes e baratos pelo BNDES, o que fez com que muitas empresas acreditassem e investissem, endividando-se.

O prolongamento da recessão fez com que um grande conjunto de empresas brasileiras que se prepararam para atuar em uma economia em expansão, tivessem frustradas suas expectativas e planos. Investiram, se endividaram e passaram a vender aquém do necessário. Quando isso ocorre, acabam operando longe do ponto de equilíbrio planejado, o que dificulta sua geração de lucros e caixa.

Quem investiu ficou com seus prédios, máquinas e estoques, mas também com as dívidas contraídas para seus financiamentos. Quando a demanda não veio, os investimentos pouco trabalharam e não se pagaram, mas as dívidas ficaram.

Consequência, as empresas passaram a trabalhar de forma mais pesada, tendo que carregar dívidas contraídas para investimentos que não retornaram. As operações realizadas neste cenário descapitalizam a grande maioria das empresas brasileiras que tiveram reduzida sua capacidade de pagamento, o que explica hoje a inadimplência elevada no sistema bancário, entre outros.

A redução da demanda somou-se com a prática pelo Banco Central de taxa de juros elevadas por um longo período, criando um coquetel explosivo para as empresas, pois além de venderem menos, passaram a ter que girar seus passivos financeiros a taxas crescentes.

Para a retomada da economia nos próximos anos, a situação atual das empresas brasileiras representará uma dificuldade adicional, dada sua deterioração patrimonial e financeira, pois se tornaram menores e endividadas.

São empresas enfartadas, ainda possuem um coração, porém partes desse estão comprometidas por seus endividamentos e acidentes sofridos durante os percursos recentes. Por outro lado, deverão nos próximos anos carregar seus corpos com o que sobrou de seus corações e reticentes quando tiverem que dar seus próximos passos[2].

Na realidade, o afrouxamento da política fiscal e a redução artificial da taxa Selic foram gêneses de tudo, cujos efeitos negativos perduraram e levaram a nossa maior recessão provocada pelo governo Dilma.


Atualização:
[1] Para arrematar o colocado nesse artigo, cujos fatores desfavoráveis permanecem ao longo do tempo, citamos aqui afirmativa do Barão de Mauá, que disse: – “O melhor programa de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem.”
[1] A gênese de tudo.
[1] Esses efeitos negativos são definitivos e deixaram sequelas.