CENÁRIOS DE STRESS E BRUMADINHOS
ARTIGO PUBLICADO EM ZERO HORA EM 30/01/2019
No mercado financeiro utiliza-se um conceito ou ferramenta denominado cenário de stress. Quando faz-se qualquer projeção ou estudo de viabilidade de investimentos ou projetos, estes são compostos por um conjunto de variáveis que representam as hipóteses que, conjugadas determinarão sua viabilidade e levarão a decisões. O resultado obtido estará assentado na ocorrência mais provável de cada variável, que formam os chamados cenários básicos. Como se trabalha principalmente com probabilidades e não certezas, as projeções estão sujeitas a riscos de execução. Em função das incertezas aplicam-se então os denominados testes de stress, que buscam aferir que se tudo der errado, qual o efeito do risco assumido para o investimento e qual o plano de contingência disponível para compensar parte ou o todo do prejuízo ocorrido.
Trazendo esse conceito para a questão ambiental, pelo desastre de Brumadinho e anteriormente pelo de Mariana, com prejuízos ambientais irreversíveis e que ceifam vidas humanas, verifica-se que não se aplicaram cenários de stress, pois riscos possíveis acabaram sendo pouco considerados e os resultados comprovaram, que erraram nas probabilidades.
Os cenários de stress dessas barragens deveriam levar em conta o risco real de seu rompimento e o que se verificou foi uma mensuração insuficiente. Seus projetos de engenharia falharam e os planos de contingência para os potenciais desastres simplesmente inexistiam.
Um exemplo dos equívocos da incorreta mensuração dos riscos da barragem foi a informação constante do Relatório de Segurança de Barragens, produzido pela Agência Nacional de Águas – ANA, que classificou a de Brumadinho como de baixo risco de acidentes e com alto potencial de danos. A barragem pertencente à Vale era depositária de seus resíduos de mineração e, se não restou dúvida quanto a seu potencial de danos, sobraram certezas de que não era de baixo risco de acidentes, que não foram devidamente avaliados e muito menos preparados planos de contingência, fundamentais para empreendimentos desse porte.
A mensuração dos riscos ambientais deve ser preocupação preponderante para a preservação do planeta, onde as ameaças são desconsideradas, proliferam marianas e brumadinhos e age-se como se não houvesse o amanhã. Apenas para uma reflexão, devemos lembrar que o habitáculo que permite a vida em nosso planeta é extremamente fino, pois de um diâmetro de menos de 13 mil km, 80% da massa atmosférica está contida em uma fina camada de até 11 km de altitude, o que dá uma boa medida da fragilidade da vida na Terra.