A INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA NO RS – PARTE 4
PUBLICADO EM ZERO HORA EM 27/09/2017
Tenho resumido aqui as negociações que atraíram para o Estado as plantas da General Motors e da Ford. Se a GM é o investimento de maior impacto em nossa economia em muitas décadas, a saída da Ford pode ser considerada nosso maior desastre.
O projeto da empresa era maior do que o de GM e apresentava uma característica interessante com relação a seu site: os fornecedores que se instalassem em Guaíba não dariam exclusividade à montadora, podendo vender para qualquer outro fabricante, pois em sua lógica, quanto maior a escala de produção, mais viável se tornaria a cadeia produtiva.
Também, não era público, mas a Empresa cogitava a gradativa mudança de sua produção para o Estado, daí a razão de sua área ser quase três vezes a da GM. Sua ida para a Bahia, pelas menores condições de produção naquele Estado, fez com que a estratégia fosse alterada e seus investimentos desdobrados entre aquele Estado e em suas plantas de São Paulo.
O cancelamento do investimento aqui teve razões simples; para que a empresa viesse, além do evidente impacto causado pela chegada de seu principal concorrente mundial à época, tinha na negociação incentivos fiscais com base em impostos estaduais futuros, mais o financiamento de parte da construção da planta a juros subsidiados. Quando o contrato foi assinado, uma primeira liberação foi realizada, R$ 42 milhões e pouco mais de R$ 200 milhões ficaram de ser disponibilizados com o andamento da obra.
No ano de 1999 assumiu o Governo do Estado o Governador Olívio Dutra (PT), cujo partido havia sido crítico às negociações com a GM e a Ford e, por questões ideológicas, entendeu por não dar seguimento ao disposto nos contratos firmados entre a Empresa e o Governo anterior. Talvez tenha ficado prisioneiro de seu discurso.
Ajudou também nosso sistema jurídico; devido ao impasse criado pelo novo governo, descumprindo o contratado, a direção da Ford foi chamada por sua matriz nos Estados Unidos para dar explicações ao board da empresa sobre o que estava havendo, pois o investimento era considerado estratégico para a recuperação de sua participação no mercado brasileiro. Lá chegando, seus dirigentes começaram a descrever o que estava ocorrendo, quando foram indagados se havia um contrato; a resposta foi sim, que havia um contrato e que o Estado decidiu não o cumprir, o que teria causado espanto na reunião, pois lá não cumprir contratos não é opção. A perda do investimento, portanto, se deu pela soma de uma orientação ideológica com a insegurança jurídica que representa problema brasileiro para a atração de investimentos. Aqui tudo pode ser discutido e judicializado.
Outras explicações para a perda da fábrica são meros factoides políticos, sem qualquer sustentação.
Volto ao assunto nas próximas colunas.