PUBLICADO EM ZERO HORA EM 25/10/2017

 

Ao longo da série de artigos que escrevi nesse espaço sobre a indústria automotiva no Rio Grande do Sul, me chamou a atenção a viva curiosidade ainda com relação à perda da Ford, suas razões e também o tamanho do prejuízo.

O impacto positivo da GM no Estado auxilia a mensurar o prejuízo e a perda, bem como os dados públicos disponíveis sobre a fábrica da Ford em Camaçari na Bahia ajudam a estimar seu impacto, dispensando qualquer estudo acadêmico.

Lembrando o momento, entre os anos de 1995 e 1997 ocorreu um significativo ciclo de investimentos na então atrasada indústria automobilista brasileira, entre os quais, três grandes projetos se destacaram, o da Renault, projeto disputado pelo Rio Grande do Sul e que acabou por ir para o Paraná e os da General Motors e da Ford, que foram atraídos para nosso Estado.

Em comum, os investimentos da GM e da Ford caracterizavam-se por conceitos industriais inovadores e se situavam entre as mais modernas plantas dessas montadoras no mundo. Tiveram portes similares no início e potenciais que em conjunto colocariam o Rio Grande do Sul entre os principais polos de produção de automóveis das Américas, introduzindo aqui uma nova vocação.

A decisão do governo Olívio Dutra – PT em 1999, de não dar seguimento ao contrato assinado com a montadora, discutam-se suas motivações, acabou agraciando a Bahia com o melhor presente que já recebeu. Utilizando-se apenas dados públicos da Ford, é informado que inicialmente foram investidos no Complexo Industrial de Camaçari cerca de US$ 1,2 bilhão pela empresa, mais US$ 700 milhões por seus fornecedores. A capacidade atual é de 250 mil veículos por ano, mais de mil por dia. Podemos estimar que operando a pleno, seu faturamento superaria R$ 10 bilhões anuais, acrescentando mais de R$ 3 bilhões ao PIB baiano por ano. Nessa conta não se inclui a fábrica de motores inaugurada em 2014 com capacidade para a produção de 200 mil unidades anuais.

Segundo a Ford, o complexo gera 7,7 mil empregos diretos e mais 77 mil indiretos, sendo que recentemente voltou a contratar. São algumas centenas de milhões em salários.

Após o sucesso da implantação e funcionamento do investimento em Camaçari, os dirigentes da empresa reconheceram que o empreendimento salvou a Ford no Brasil, pois quando das negociações que mantivemos com a empresa para sua vinda para o Rio Grande do Sul, o quadro dela era desanimador, com pouco mais de 6% do mercado, bem como a falta de produtos e plantas desatualizadas faziam com que a hipótese de sair do Brasil fosse concreta.

Esse resumo sintetiza bem nossa perda.

Errata: No artigo anterior, por erro de revisão, constou uma estimativa do faturamento da GM em Gravataí, desde a inauguração da fábrica, de R$ 128 milhões, quando o correto era de R$ 128 bilhões.