CADEIAS PRODUTIVAS E O EFEITO DOMINÓ
ARTIGO PUBLICADO EM ZERO HORA EM 18/11/2020
“A economia está estruturada como uma grande matriz formada por uma complexa rede de vasos comunicantes, onde todos têm sua funcionalidade e há uma grande interdependência entre todos seus integrantes. A pandemia e seus efeitos na economia evidenciaram isso, com o desarranjo do funcionamento das mais diversas cadeias produtivas.
A pandemia e seus efeitos econômicos ajudam a entender como funciona toda a matriz produtiva. Epidermicamente, todos percebemos a escassez ou a ausência de oferta de produtos e insumos dos mais diversos. Essa escassez se manifesta pela falta dos mais diversos bens e serviços, ou através do aumento de seus preços, fruto da oferta insuficiente e mesmo no alongamento dos prazos de entrega.
A fase mais dura da pandemia e seus impactos recessivos, refletiram no desarranjo do processo produtivo geral. Uma súbita redução da demanda desequilibrou a produção que em muitos casos foi paralisada. Quando isso ocorre, verifica-se a diminuição da oferta e da formação de estoques; concomitantemente, são impostas perdas financeiras às empresas, por conta do menor volume de negócios, o que dificulta eventuais retomadas de suas atividades.
Ajuda também no entendimento, o conceito de matriz econômica, onde toda e qualquer empresa, para produzir, depende daqueles que provem seu suprimento. Podemos aqui usar o conceito de montadora, que de certa forma explica os impactos na indústria e no comércio. As empresas, para venderem seus produtos, dependem do recebimento de bens e serviços fornecidos por terceiros e a partir deles “montam” seus produtos.
As montadoras de veículos, por exemplo, são empresas totalmente dependentes de seus fornecedores; recebem conjuntos e peças e insumos e fabricam seus carros. A ausência de qualquer item pode comprometer toda a fábrica.
Os segmentos industriais operam dessa forma. Com a desaceleração das mais diversas cadeias produtivas brasileiras, quebrou-se o elo da normalidade de seus fluxos, comprometendo seus arranjos e o fornecimento de suprimentos básicos. Na prática, há um “efeito dominó”. Verifica-se isso na construção civil, com problemas na oferta de cimento, ferro, fios e cabos e outros tantos itens e com custos que superam a inflação oficial. Toda a indústria que depende de suprimentos siderúrgicos está também impactada, assim como a moveleira e de alimentos, com problemas de suprimento de insumos dos mais diversos.
Verificou-se também o represamento da demanda geral, que ao voltar à normalidade, acaba também por pressionar o setor produtivo e com impacto nos preços.
De positivo, parece que nos deparamos com uma retomada econômica de curto prazo e talvez um melhor 2021, porém, sua sustentabilidade no tempo continuará dependendo de reformas econômicas e de uma melhor visibilidade dos ajustes fiscais necessários.